Caso vocês ainda não tenham percebido, o jogo já começou. Na política assim como no mundo dos negócios, tanto em pequenas como em grandes empresas, as relações entre os indivíduos são marcadas pelo famoso “Power Games”, “Jeu de Pouvoir” ou simplesmente “Jogo de Poder”. Você já percebeu que basta um grupo de pessoas se reunir para termos a formação de um nicho de poder? Algumas pessoas farão de tudo para influenciar decisões, atrair aliados, exercer autoridade, enquanto outras se contentam apenas em sobreviver – mas todas elas acabam envolvidas nesse jogo.

Despertar para a realidade admitindo que esse jogo existe exige esforço, assim como uma reflexão crítica – a não ser que você prefira entrar desavisada nesse esquema. Aprender como jogar o jogo do poder é uma habilidade necessária para você, que assim como eu, está no mundo do trabalho em busca de crescimento e evolução. Eu, pessoalmente, também adoraria que tanto na política quanto nas organizações tudo fosse um mar de rosas, onde todos estariam dispostos a colaborar ajudando uns aos outros, mas infelizmente essa não é a realidade no terreno. Jeffrey Pfeffer estudioso dos temas liderança e poder afirma que: “O sistema de comando e controle é exatamente o mesmo nas organizações, o que muda é o discurso sedutor dos líderes”. Segundo ele, é pura ilusão essa história que as empresas estão mais dinâmicas e horizontais. 

Muitas são as histórias de mulheres, jogadoras de alta performance, poderosas com referência de sucesso que tem driblado de forma significativa a discriminação de gênero, mas infelizmente, apesar de estarmos juntas lutando, a tão esperada igualdade ainda está longe de ser um fato. No mundo corporativo homens ainda são quase sempre a maioria, a cultura machista ainda impera sem falar nas disparidades salariais, falta de mulheres em determinadas áreas, nos principais cargos de liderança ou em posições governamentais de alto nível. É preciso unir estratégia e tática para virar esse jogo, e claro, ter sempre em mente que enquanto houverem peças no tabuleiro haverá chances de sucesso.

Dentro da minha experiência profissional de mais de dez anos no mercado financeiro na Suíça – um meio dominado por homens – tive a oportunidade de participar de um workshop com uma coach especializada nos desafios da carreira feminina, Sibyl Schädeli. A partir disso, compartilho com vocês algumas ferramentas necessárias para uma melhor compreensão dessa dinâmica de “Jogo de Poder” evitando algumas armadilhas e com o objetivo principal de aumentar as chances de vitória e a presença feminina na liderança. 

1- Entendendo a regra do jogo 

A regra é simples: primeiro você compreende para depois ser compreendida.

O exercício parece simples mas exige muita observação, escuta e empatia para detectar as entrelinhas, o poder formal do organograma e também o poder informal. Antes de fazer suas apostam olhe à sua volta e se esforce para conhecer melhor seus companheiros de jogo. Não se assuste se por acaso eles saírem na frente – afinal as regras do jogo foram escritas por homens.

Mesmo tendo desafios parecidos, estudos demonstram que mulheres e homens agem de forma distintas e costumam fazer apostas diferentes. Não precisa ter lido o best-seller “Homens são de Marte e mulheres são de Vênus” – baseado na pesquisa desenvolvida pelo terapeuta John Gray – para compreender um pouquinho sobre as diferenças em suas maneiras de pensar, sentir e agir. Aparentemente nossas motivações e perspectivas são diferentes. Homens e mulheres não se comunicam da mesma maneira. Homens são de poucas palavras, falam sobre suas ações, se vendem com naturalidade e de maneira afirmativa. Um exemplo ilustrativo da fala de um homem: “Ligue para o Diretor, eu quero vê-lo na minha sala em 15 minutos”. As mulheres de uma maneira geral costumam ser modestas, pensam em voz alta, falam sobre o que sentem, de maneira que podem causar dúvidas. Agora um exemplo da fala de uma mulher: “Você pode por gentileza ligar para o Diretor? Se ele estiver disponível eu gostaria de vê-lo na minha sala”. Essa diferença na comunicação pode não ser tão clara.

Pesquisas apontam que numa forma geral as mulheres falam mais que os homens e são mais analíticas para explicar as coisas. Por sua vez essa divergência estaria estritamente relacionada com o gênero, associadas às diferenças psicológicas, sociais e culturais. Uma vez conscientes dessas diferenças, você passa a planejar e elaborar sua estratégia de marketing pessoal e de comunicação com maior clareza, assertividade e adapta sua linguagem em relação ao seu interlocutor, lembrando que às vezes, dependendo da situação, o silêncio pode ser a melhor resposta.

Aprenda a ser respeitada ao invés de perder tempo tentando agradar a todos. Ter voz ativa, uma comunicação eficaz e fazer com que as pessoas que estão à sua volta te observem como autoridade na sua área te fará levantar voo… já a gentileza, nem sempre. A regra é simples: ou você define sua estratégia ou será parte da estratégia do seu adversário, a escolha é sua.

2- Inteligência Emocional (IE), uma peça poderosa.

As empresas hoje não querem saber apenas se somos competentes. As competências técnicas são importantes, mas não são suficientes para seguir o jogo, se destacar e chegar na posição de líder. Possuir “soft skills” pode ser o que irá determinar se você receberá uma promoção ou será demitida, ou ainda se será substituída por um robô em um futuro próximo.

Dentre os “soft skills” mais valorizados do momento está a tão comentada inteligência emocional. Foi em 1995 que aconteceu a popularização da inteligência emocional quando Daniel Goleman lançou o livro “Inteligência Emocional”. O insight mais importante que transformou a visão sobre o conceito foi sua afirmação que o QI (quociente Intelectual), que durante décadas era considerado o indicador mais relevante para medir a chance de sucesso na vida, mudou e representa apenas 20%. Os outros 80% restantes são formados por diferentes fatores da inteligência emocional (IE). A partir daí as organizações passaram a levar à sério a questão e a Inteligência Emocional passou a ser ponto fundamental na avaliação e desenvolvimento dos profissionais. Os 5 sentidos que estão interligados à Inteligência Emocional são: autoconhecimento, capacidade de autocontrole, empatia, habilidades sociais e motivação. Com estes 5 pilares equilibrados nos tornaremos pessoas melhores nas diferentes áreas da sua vida, tanto profissionais como pessoais.

A inteligência emocional é crucial nos cargos de liderança e pode te ajudar muito a crescer na carreira, afinal ou você controla suas emoções e as usa à seu favor – ou elas te controlarão. Não desperdice a oportunidade de fazer mais com menos além de trabalhar seus pontos fracos como costumamos fazer. Foque e desenvolva também seus pontos fortes e você poderá se aproximar da excelência, afinal IE é considerada uma habilidade crucial para o sucesso na vida, e segundo Daniel Goleman deveria ser introduzida ainda na infância. 

3- Se adaptar, mas sem perder seus valores. 

O mundo que vivemos está em plena transformação e tudo pode mudar em um simples piscar de olhos. Ao longo da minha carreira já vi muitos impérios desabarem assim como já vi outros sendo criados e emergirem do zero. O jogo pode virar em qualquer momento, esteja sempre preparada. 

A tão solicitada capacidade de adaptação é uma peça valiosa nos dias de hoje. É preciso ter curiosidade para aprender ao longo da vida (lifelong-learning) e desapegar-se dos modelos do passado, além de ser capaz de reformulá-los. Como dizia Darwin, na sua Teoria de Evolução: “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças”. Para se adaptar no mundo corporativo, além dos pontos citados acima é preciso muita agilidade, e é primordial entender a cultura da empresa, seus valores, missão, códigos e adaptar seu comportamento.

Vale ressaltar que se adaptar é um fator de sucesso, mas vale utilizar nosso senso crítico para não perder seus valores, sua identidade, sua essência e jamais deixar de lutar pelas suas próprias convicções.

4- Avalie o terreno: estruturas vertical e horizontal

Abaixo falaremos das diferenças entre as duas estruturas organizacionais mais utilizadas: o modelo vertical e o modelo horizontal, cada um deles com suas vantagens e desvantagens.  

Estrutura vertical é aquela que representa uma estrutura clássica, organização hierárquica com topo, meio e base, organogramas, status social valorizado, salários e cargos muito bem definidos e a decisão vem sempre de cima para baixo. Os superiores controlam as decisões estratégicas enquanto os colaboradores se contentam em cumprir as ordens e serem dominados pela hierarquia. A guerra de poder nesse caso é por objetivo de chegar ao topo ou se aproximar dele.

Já a estrutura horizontal, modelo muito utilizado na nossa sociedade moderna, representa um sistema informal e menos individualista, onde os funcionários têm autonomia para tomar suas próprias decisões e estão no mesmo nível. A comunicação é horizontal entre os departamentos e existe uma política de proximidade e popularidade com os colegas.

Imagino que você já identificou a estrutura organizacional da empresa que você trabalha ou lidera, agora cabe a você se adaptar, saber escutar e utilizar as emoções  para construir relações positivas – sempre adaptando seu comportamento e ações a cada situação e indivíduo. 


5- Tudo tem seu preço

Tudo na vida tem seu preço, e como diz Rosa Parks “Você nunca deve ter medo do que está fazendo quando estiver certa”. O sucesso profissional também tem seu preço no tabuleiro e às vezes temos que sacrificar algumas peças para ganhar o jogo, mas nunca sem analisá-las antes. Às vezes os preços são baratos, outras vezes caro e outras vezes são inaceitáveis – e tem até aqueles preços que sem querer querendo colocamos na conta das pessoas que nos cercam.

Ter uma carreira de sucesso é fácil… Difícil é ter carreira de sucesso e não perder seus valores causando sempre impacto positivo na vida das pessoas. Se adaptar é bom, mas tudo na vida é uma questão de prioridade, portanto saiba escolher suas batalhas guardando o que há de mais precioso seus valores e a integridade. Não é necessário ganhar a todo custo, às vezes jogamos para ganhar outras para não perder, para aprender e até mesmo para se defender – ou para não se deixar manipular. Nas organizações o jogo é diferente do xadrez, o jogo não para depois do xeque-mate, ele continua e é preciso coragem para recomeçar quantas vezes for preciso. 

Estamos nos aproximando do dia em que os líderes serão escolhidos pela competência, integridade e ética, mas enquanto esse dia não chega para compreender a dinâmica desse “Jogo de Poder”. Evitar as armadilhas e aumentar as chances de vitória é preciso para ser uma mulher antifrágil, de valor e causar impacto positivo na vida das pessoas, além, de ter sempre consigo humildade para aprender e coragem para recomeçar.

Aposte em você!!! Você ainda não sabe do que é capaz.

Por Raquel C. Gillioz

WhatsApp: +41 79 232 6517

LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/raquel-c-gillioz/

Raquel C. Gillioz, Paranaense, 37 anos de idade, mora na Suíça fazem 15 anos.
Começou do zero uma nova vida no exterior, passou pelo setor da hotelaria e turismos
antes de trabalhar por mais de dez anos no setor financeiro internacional, bancos suíços, onde ela subiu degrau por degrau até se tornar especialista da gestão de relacionamentos com os clientes ( CRM).
Apaixonada pela área da educação e adepta do « lifelong-learning »teve a oportunidade de realizar experiências pedagógicas e morar em cinco diferentes países.

Empreendedora, mãe do Victor, seu  principal objetivo hoje é transformar o mundo através da educação e tecnologia , compartilhar suas experiências,  ajudar a nova geração, crianças e adolescentes a se preparem para os desafios do futuro próximo.
Raquel também acaba de ser nomeada coordenadora Young – BPW (business professionnel Woman) na Suiça e está na luta para empoderar mulheres e promover a igualdade de gênero.
Hobby: conhecer novas culturas e aprender novos idiomas.