Que a sociedade de consumo mudou, todo mundo sabe. É só olharmos ao nosso redor para perceber que nossos comportamentos de hoje não são mais aqueles de antigamente. A maneira como vivemos se alterou, o modo como nos relacionamos, aquilo que compramos e, claro, o “como compramos”.
Parte desta aceleração é causada pela dinâmica da sociedade em que vivemos, com as acelerações e impactos claros da pandemia e do COVID-19 no nosso dia-a-dia. Não nos vemos mais como antigamente, não nos vestimos mais com as mesmas roupas e não damos mais o mesmo valor aquelas coisas que antes pareciam tão fundamentais. Outras, por sua vez, nos passaram a ser tão queridas que nos perguntamos a cada momento “como não usamos ou pensamos nisso antes”.
Toda esta mudança, entretanto, nos leva por vezes a pensar que o mundo está totalmente diferente, e que os conceitos que sempre trabalhamos estão se tornando obsoletos, ou não respondem às perguntas chave das organizações – o que não é de todo verdade.
É claro que em um mundo em transformação, muitas das premissas que adotamos ao longo da vida caem por terra. O famoso “o que te trouxe até aqui não te levará para o futuro” é correto quando pensamos em rotinas e procedimentos padrão. A base de tudo, entretanto, não muda.
O consumidor é um só. Como indivíduo, ele sempre buscará a maximização de sua “conveniência”, buscando o maior benefício possível no menor custo. Para a maximização deste benefício, ele olhará para toda a operação em dado momento e fará a soma de todos os atributos em comparação à sua necessidade. Seu comportamento e ação sofrerá influência de seu passado (experiência), presente (situação) e futuro (intenção ou vontade), e será situacional, de acordo com esta maximização – muito embora sempre tenhamos um comportamento mais padrão).
Explico:
Um dos pontos que mais escutamos nas rodas de negócio hoje em dia é o fato de que o consumidor busca hoje por uma entrega rápida, veloz, e realizada por meio de lojas próximas (conceitos advindos de entrega express, ship from store, hubs de distribuição, descentralização de CDs, dentre outros que estão na esteira destas discussões). A pergunta que se faz, entretanto, é “por que?”. Será que este comportamento é mesmo tão novo assim, ou será que novos modelos de negócios (provocados pela tecnologia) foram capazes de atender uma necessidade que sempre existiu?
A entrega de valor máximo, da conveniência de ter o produto na hora que precisa, sempre esteve presente. A entrega imediata por meio da loja física, por exemplo, sempre foi apontada como diferencial justamente por ela ser viável e possuir o valor de imediatismo junto ao consumidor final. O “P” Praça sempre esteve presente dentro dos preceitos de marketing, dentro da visão de ter o produto na hora que se precisa, onde se precisa.
O que mudou foi a forma como a empresa se estrutura para realizar esta conveniência. A forma como a disponibilidade deste produto aparece e o seu tempo. Menor tempo sempre foi considerado melhor, mas ele nem sempre foi possível. Confundimos, ao longo do tempo, a disponibilidade de produto em loja como o master da “conveniência” de ter o produto, quando na verdade o que o consumidor quer é realizar sua vontade de ter o produto quando se precisa e no menor tempo possível.
Assim como esta, muitas outras vontades foram deixadas de lado e hoje em dia aparecem à tona dentro das tendências de soluções e do futuro. O que deixamos de observar é que as soluções se modificam e modernizam, mas as conveniências e vontades base não. Claro que há um olhar aqui de evolução de valorizações e de mudança comportamental social. As vontades possuem pesos e medidas diferentes comparado às soluções existentes. Levamos hoje, como dito no começo, outro tipo de vida.
No final do dia, todos queremos simplificar a vida. Todos queremos ser felizes. Todos queremos maximizar nossa conveniência e levar a vida da maneira melhor possível. Os preceitos base continuam e é a partir deles que temos que nos valer se quisermos entender as movimentações constantes e adequar nossas operações ao futuro.
As tecnologias mudam. Soluções se aprimoram e modificam. O mercado se torna disruptivo. Respostas se apresentam de maneira diferente. Novos modelos de negócios surgem… Mas o consumidor continua sendo indivíduo, e o mercado se reinventa sempre para atendê-lo.
Às vezes, menos é mais. Tudo aquilo que é apresentado só é rentável se gera valor. Está na hora de parar de falar em tendências como respostas absolutas e começar a entendê-las como indicativos daquilo que sempre foi buscado pelo consumidor e nunca foi entregue. As empresas do futuro são aquelas que, entendendo este jogo, conseguem se manter flexíveis o suficiente em pensamento e estrutura para adaptar suas operações.
Patricia Cotti – Head de Modelagem na DrivenCx, Diretora IBEVAR e Embaixadora MNE
Comentários