No meio de tantas palestras e discussões sobre metaverso e NFT, me chamou a atenção quando Arthur Brooks lotou uma sala do SxSW 2022 com o tema: “Finding Success, Happiness, + Purpose in the Second Half of Life”.Eu saí muito animada, e não fui a única.

Em todas as rodas de conversas e nos grupos de whatsapp os comentários foram unânimes: é preciso ressignificar o envelhecimento de forma positiva e transformadora. Não é de hoje que muitos estudiosos comportamentais citam provocativamente: idosos não, maduros querendo viver!

E para trazer um pouco mais de contexto, o “viver” que esta geração 50+ busca tem os seguintes princípios: aproveitar com orgulho a sua experiência, ter energia para se manter ativo e ter independência para fazer as escolhas que gerem prazer! Mas para que tudo isso aconteça nessa fase existe um fator fundamental, o tempo. Com os filhos crescidos, com menos pressão de crescimento de carreira, com menos ansiedade de dar conta de tudo, finalmente as pessoas nessa idade passam a ter mais tempo, aquele tempo tão desejado desde os 20 e poucos anos…

E o tempo livre aumenta a propensão ao consumo. Segundo os dados da pesquisa Tsunami 60+, estima-se que o consumo dessa geração seja a terceira maior atividade econômica do mundo, uma indústria que movimenta US$ 7,1 tri anuais, e que, ironicamente, tem poucos produtos e serviços desenvolvidos e comunicados especificamente para essa parte da população.

Esse crescimento já vem chamando a atenção de muitas empresas e marcas ao redor do mundo todo. Não podia ser diferente para a nossa turma aqui do e-commerce, ainda mais depois de 2021, onde pela primeira vez os 50+ compraram mais online do que os mais jovens, segundo dado divulgado pela NilsenIQ ebit.

É indiscutível que a Pandemia acelerou o comportamento de compra online, muitas pessoas descobriram pela necessidade, a comodidade e os encantos do e-commerce! E melhor, grande parte aderiu a esse novo hábito em diversas categorias.

Com a ajuda da MindMiners, um parceiro estratégico de dados de comportamento do consumo, fui buscar um pouco mais de fatos e dados para me ajudar nessa reflexão.

O público maduro parece que veio para ficar, pois eles passaram a comprar on-line com a mesma frequência que o público mais jovem. Esse é um marco importante que dispara uma provocação em todo o setor: como entender e atender esse público?

O primeiro passo é entender que o perfil de compra tem suas particularidades. As duas categorias mais compradas são as mesmas: eletrônicos e roupas, porém roupas com uma relevância bem menor se comparada ao público mais novo (41% vs 49%).  Nos 45+ também se destacam categorias que não aparecem com tanta força entre os mais jovens: eletrodomésticos e produtos farmacêuticos, ambos com 31%. Já maquiagem e cosméticos que aparecem em destaque entre os mais jovens. Me chama atenção que nesse segmento a indústria parece não estar convencendo os mais velhos na conversão ou comunicação.

Ainda sobre categorias de produtos, há uma enorme oportunidade de crescimento para o setor de alimentos. As compras online entre os mais velhos fica em torno dos 22% o que me parece ainda muito baixo pensando no interesse e envolvimento desse público com a comida. A alimentação é um dos principais elos da relação dos maduros com a sua saúde: a atitude proativa de bem-estar, o controle ou prevenção de doenças e o pelo fator social de cultivar os laços afetivos e familiares nas refeições.

E para atender melhor esse público, listo aqui algumas provocações de como o e-commerce pode prestar um melhor serviço, e vender mais, para os maravilhosos 50+:

  1. Quando retratados em imagens esse público espera uma visão realista, positiva e diversa que os represente.
  2. Muita atenção ao design com letras maiores, cores mais fortes e bons contrastes que facilitam a navegação e a leitura. Evite também excesso de interferências de pop-ups ou vídeos muito acelerados.
  3. Mais informações sobre os produtos, esse público tem tempo e interesse para entrar mais nos detalhes do produto, e junto com o autoconhecimento, acabam fazendo escolhas de forma mais consciente e menos impulsivas.
  4. No carrinho, simplifique os cadastros e principalmente dê clareza as mensagens de erros. Também pode ser complementado com o uso de chat ou whatsapp commerce para tirar dúvidas ou finalizar a compra, pois o atendimento mais personalizado e humanizado pode dar mais segurança para finalizar a compra.
  5. Olhando um pouquinho mais à frente, e trazendo como inspiração mercados mais desenvolvidos, apostem em assistentes virtuais, uso de voz e navegação com uso de tablets para os 50+.

E para fechar essa reflexão volto ao começo do texto e trago uma frase da palestra do Arthur Brooks no SxSW, onde ele traz um dos questionamentos do 50+ :“Is he a real friend or a deal friend ?”.

 

 

Texto escrito por:

Marta Oliveira, Diretora de Estratégia de Marketing e Transformação Digital na Kraft Heinz

Apaixonada por tangibilizar insights em estratégia de marcas e de produtos, tenho mais de 20 anos de experiência em grandes marcas de consumo, atuando como executiva, consultora e empreendedora.

Agradecimento especial a MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital com mais de 4 milhões de usuários cadastrados, que oferece uma plataforma de Human Analytics para que marcas dos mais diversos segmentos possam obter respostas ágeis e de qualidade.